Assimilar as novas demandas da sociedade que subiu de classe social nos últimos dez anos é um dos principais desafios do PT para o futuro, porque o povo é grande protagonista das vitórias obtidas nos últimos anos. Compreender o Brasil do presente sem esquecer o Brasil do passado é fundamental para uma legenda que chega aos 33 anos – dez anos dirigindo o País – cuja missão é propor novas políticas públicas que reduzam ainda mais a desigualdade social, principalmente entre homens e mulheres - e que garantam o aprofundamento da democracia e do senso da liberdade em todos os aspectos. Uma coisa leva à outra.
Para os próximos 33 anos ou não?
Essa é a compreensão do presidente do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, para os próximos anos do partido. Em entrevista concedida para os jornalistas dos sites do PT no Senado e do PT da Câmara dos Deputados, Falcão aborda temas que causam urticária na oposição e na direita conservadora, como o fim do financiamento privado das campanhas, o monopólio e o oligopólio que reinam nas empresas de comunicação e a necessidade de regulamentar artigos da Constituição para salvaguardar a liberdade de expressão.
O presidente do PT também alerta nesta entrevista: um pequeno grupo político, com o apoio da mídia, criminaliza a ação política e, sob nova roupagem, esconde aspirações udenistas e autoritárias - típicas de estados fascistas.
Leia, a seguir, os pontos mais importantes da entrevista:
Quais são os desafios do PT para os próximos anos?
O primeiro desafio é continuar aprofundando a democracia no Brasil. O PT nasceu fazendo democracia, combatendo a ditadura, combatendo a censura, ajudando a conquista do direito de greve. E na matriz de toda a nossa política, agora com dez anos de governo, nós temos sempre o povo como seu protagonista. E o povo é soberano, é quem tem que participar mais e a democracia é o governo do povo, para o povo, pelo povo, naquela definição singela de Lincoln (Abraham Lincoln, 13º presidente dos Estados Unidos, vitorioso na guerra civil americana e autor a Emenda 13, que aboliu a escravatura nos EUA). Nós tivemos avanços consideráveis nesses dez anos, mas eu acho que ainda há muito por fazer. Esse é um dos principais desafios nossos para o próximo período.
O segundo desafio é assimilar as novas demandas dessa sociedade que ascendeu de classe social, daquelas pessoas que conquistaram direitos e foram incorporadas ao mercado de consumo; que passaram a ter direito de oportunidades novas, que ingressaram na universidade e que a partir de um determinado patamar de conquistas agora querem mais. O PT precisa ter a capacidade de assimilar essas novas demandas e vocalizá-las. E na medida em que faça isso vai também criando condições para alterar a correlação de forças na sociedade. Quanto mais nós conquistarmos opinião, quanto mais as nossas ideias se tornarem maioria na sociedade, mais difundidas, maiores as possibilidades de fazer a democracia aprofundar nós teremos.
O terceiro desafio, que compõe esses dois, é fazer com que haja maior igualdade. Maior igualdade entre os vários setores sociais, maior igualdade entre homens e mulheres também, porque se há um dos aspectos que nós não avançamos muito nesse período é o fato de prevalecerem na sociedade diferenças e preconceitos em relação às mulheres, salários menores para funções iguais, a existência, ainda, de assédio moral e sexual nos locais de trabalho, e a pequena participação na vida política nacional. Uma representação nos Parlamentos totalmente desproporcional em relação ao número, à população feminina que é majoritária, e ao eleitorado feminino que também é majoritário. Portanto, esses são alguns dos desafios para o próximo período que devemos enfrentar.
Para os próximos 33 anos ou não?
Rui Falcão: Pelo menos para os próximos quatro anos.