É uma vergonha
que em pleno século 21, quando estamos perdendo postos de trabalho formais para
a inteligência artificial e robôs, ainda tenhamos que conviver com a praga da
escravidão. Uma tragédia que transformou a humanidade em algozes de seus próprios
irmãos para satisfazer a ganância e soberba de uma sociedade doente e marcada
pela desigualdade.
O
Brasil, do século 20, por ser majoritariamente rural e um país de dimensões continentais,
dificultava bastante a fiscalização das condições de trabalho no meio rural.
Durante a
ditadura militar, a grilagem de terras e omissão do governo criou ainda mais bolsões
de miséria e acabou por criar as condições ideais para a disseminação do trabalho
análogo à escravidão nos rincões do país.
Como consequência,
tivemos o êxodo rural e a expansão dessa prática nefasta também para as grandes
cidades.
Com fim
da ditadura e o fortalecimento dos sindicatos e movimentos socias começou uma
grande pressão para erradicar do Brasil essa vergonha e com a promulgação da
Constituição de 1988 foram criados os mecanismos e diretrizes para a elaboração
de políticas públicas para fazer o enfrentamento desse crime horrendo.
Após o
golpe político parlamentar que destituiu a presidente Dilma Roussef do poder em
2016, foi desmontado o sistema de fiscalização e proteção criado para coibir a
prática do trabalho análogo a escravidão aumentando a incidência e gravidade
das ações dos grupos criminosos que aliciam pessoas com a promessa de trabalho
e melhoria nas condições de vida, mas que na realidade os transformam em escravizados.
Segundo um
levantamento divulgado pela Ong Walk Free, que atua em todos os continentes no
combate à escravidão moderna, denominado Índice de Escravidão Global 2023, o
Brasil ocupa o 11º lugar entre os 160 países pesquisados, com cerca de um milhão
de trabalhadores em condição análoga à escravidão.
O
desmonte promovido pelo governo Bolsonaro ajudou a aumentar essa tragédia e que
só não está ainda pior por conta dos servidores do Ministério do Trabalho e
Emprego que mesmo sem apoio e condições favoráveis continuaram fiscalizando e libertando
milhares de brasileiros escravizados.
Essas informações
deverão fortalecer a luta pela reestruturação dos sistemas de proteção e o
fortalecimento do Ministério do Trabalho e Emprego no novo governo Lula, que este
ano, com a retomada dos trabalhos, já resgatou mais de 1,2 mil trabalhadores
nessas condições. Somente em uma ação conjunta
entre a Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF) e Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE) em 22 de fevereiro foram resgatados 207
trabalhadores em situação análoga à escravidão em três vinícolas de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha.