Novas regras foram aprovadas na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do
Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA), nesta terça-feira (8), para tentar
por fim as entidades de fachada que desviam dinheiro público.
Trata-se um substitutivo do senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) para um
projeto (PLS 649/2011) apresentado pelo senador Aloysio Nunes Ferreira
(PSDB-SP). A proposição estabelece normas gerais para todas as modalidades de
licitação e contratação entre entidades sem fins lucrativos e administração
pública direta, autarquias e fundações da União, estados, Distrito Federal e
municípios.
Durante a discussão do projeto, o senador Jorge Viana (PT-AC) ressaltou
que existem no Brasil cerca de 200 mil ONGs, que “trabalham, em muitos casos,
em áreas onde o Estado se ausenta”. Apesar da importância dessas entidades,
para Viana, a falta de uma legislação específica resultou em desvios, com a
criação de organizações para beneficiar amigos e parentes. Jorge Viana
considera que a nova lei proposta será bem recebida por todas as entidades
sérias que atuam no país e que contam com o respeito da sociedade.
“Eu sou de ONGs, trabalhei em ONGs e, quando governador, fiz parcerias
com ONGs. Por isso, estou feliz de colaborar com a aprovação desse projeto, que
cuida com muita propriedade da captação de recursos, muito afetada pela má
conduta de alguns”, avaliou Viana, que considerou como ponto positivo a
abertura para a participação do setor no privado no financiamento de ações e
projetos.
Relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
evidencia o destacado papel das ONGs na sociedade. O levantamento, divulgado em
2012, revela que existem 2 milhões de brasileiros trabalhando nessas entidades
por todo País; desses, 72% o fazem voluntariamente. A maioria das organizações,
ou 40%, atuam na área social.
Inovações
Resultou de inúmeras rodadas de consultas e debates com representantes
de um Grupo de Trabalho criando pelo Governo Federal e de entidades não
governamentais o texto de Rollemberg. Ele sugere regras para dois novos tipos
de “acordos de vontades”: o termo de colaboração e o termo de fomento. O
primeiro é o instrumento para formalizar parcerias propostas pelo poder
público. E o segundo prevê parcerias propostas pelas organizações da sociedade
civil.
Conforme explicou o relator, para a assinatura de ambos será exigida
seleção por meio de chamamento público, no qual devem ser garantidos princípios
da isonomia, legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade e
probidade administrativa, entre outros.
Poderá haver dispensa do chamamento público apenas em caso de urgência
por paralisação de atividades de relevante interesse público e em casos de
guerra ou grave perturbação da ordem pública, para parcerias nas áreas de
assistência social, saúde ou educação.
O projeto acaba com a modalidade de convênio entre Estado e organizações
da sociedade civil. Nesse caso deverá ser utilizado regulamento de compras e
contratações, aprovado pelo ente público com o qual se pretende a parceria. O
intuito é aumentar a responsabilidade das entidades na contratação de bens e
serviços necessários para execução da parceria.
Sobre o chamamento público, o Rollemberg explica que, além de obedecer a
princípios equivalentes aos exigidos em licitações, prevê uma inversão de
fases. Somente depois de encerrada a etapa competitiva e de ordenadas as
propostas, a Administração Pública procederá à verificação dos documentos que
comprovem o atendimento, pela organização selecionada, dos requisitos de
habilitação. “São esperados ganhos de eficiência e velocidade da seleção,
similares aos experimentados nos pregões. Assim, prioriza-se, em um primeiro
momento, a avaliação da proposta e, posteriormente, a verificação da
documentação institucional vinculada”, explicou o senador.
Participação popular
O substitutivo cria o Procedimento de Iniciativa Popular, instrumento
pelo qual as organizações da sociedade civil, movimentos sociais e cidadãos
poderão apresentar propostas para realização de chamamento público visando à
celebração de termo de colaboração ou de termo de fomento.
Proibições
Estarão impedidas de celebrar parceria com órgãos públicos organizações
que tiverem como dirigente algum parlamentar ou integrante do Ministério
Público, dirigente de órgão ou entidade da administração pública de qualquer
esfera governamental, ou respectivo cônjuge ou companheiro, bem como parente
até o segundo grau.
Também estarão vedadas aquelas entidades que tiverem contas rejeitadas
nos últimos cinco anos, enquanto não seja sanada a irregularidade que motivou a
rejeição e quitados os débitos imputados à organização. Ficam proibidas ainda
parcerias que envolvam funções de regulação, fiscalização, do exercício do
poder de polícia ou de outras atividades exclusivas do Estado.
Monitoramento e avaliação
As parcerias deverão ser monitoradas e avaliadas por órgãos de controle
e por gestor designado pela Administração Pública e, facultativamente, pelos
conselhos de políticas públicas das áreas correspondentes.
Caberá ao poder público fiscalizar as parcerias celebradas, sendo
obrigatória visita técnica in loco nas parcerias que envolvam repasse de
recursos públicos superior a R$ 100 mil.
Para parcerias com vigência superior a um ano, o projeto recomenda a
realização de pesquisa de satisfação com beneficiários e uso dos resultados
para avaliação da parceria e reorientação de metas.
Gastos e prestação de contas
O substitutivo também especifica despesas que poderão ser pagas com
recursos da parceria, como compra de equipamentos e materiais essenciais à
realização das atividades, adequação de espaço físico e remuneração de pessoal,
conforme plano de trabalho aprovado. Também poderão ser custeadas despesas
administrativas, se previstas no plano de trabalho, em valor equivalente a até
15% do total da parceria.
O projeto torna obrigatória a análise das contas em data determinada,
por parte do órgão público envolvido na parceria, sem prejuízo da atuação dos
órgãos de controle.
Para organizações com irregularidades comprovadas, estão previstas sanções
que vão de advertência à suspensão da participação em chamamento público e
impedimento de celebrar novos contratos com órgãos públicos em todas as esferas
de governo.
(PT no Senado)
Nenhum comentário:
Postar um comentário