O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta quarta-feira
(17), na Argentina, a instituição de um novo marco regulatório para os meios de
comunicações no Brasil. “A última regulação é de 1962, portanto não há nenhuma
explicação para que no século 21 tenhamos a mesma regulação de 1962, quando não
havia telefones celulares e nem internet. A evolução que houve nas
telecomunicações não está regulada”, disse ele, em entrevista ao jornal
argentino La Nación.
Na entrevista, Lula observou que no Brasil foi preparada, no final de
2009, a primeira Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), da qual
participaram partidos políticos, meios de comunicação e empresas do setor de
telefonia. Dessa conferência surgiu uma proposta de regulação para ser
discutida com toda a sociedade.
“Não há modelo definitivo. Não há modelo do Globo, da Folha, de Lula ou
de Dilma. Então, vamos começar uma discussão com a sociedade para saber o
que é mais importante para que os meios de comunicação sejam cada vez mais
retransmissores de conhecimento, de informação, cada vez mais livres e sem
ingerência do governo.”, disse Lula.
Ele lembrou que a polêmica existe na Argentina, na Venezuela e no
México, onde o presidente Ricardo Salinas e o empresário Carlos Slim “estão em
guerra todo o santo dia”.
Conglomerados - A guerra entre a Casa Rosada e grandes conglomerados de comunicação da Argentina, principalmente o “Clarín”, também foi abordada na entrevista. “Eu aprendi a não ficar reclamando e a dizer que a imprensa é culpada de tudo. O governante nunca, em hipótese alguma, deve ter medo de conversar com a sociedade. Não podemos ver cada pessoa que se aproxima na rua como um inimigo”.
Mas observou que é preciso haver equilíbrio : “Parece que devemos
acreditar na sabedoria dos leitores. Quando a imprensa está exageradamente
contra, não se acredita. Da mesma forma que não se acredita quando se está
exageradamente a favor. É o equilíbrio que dá credibilidade.” Ele disse que
aprendeu a não ficar reclamando e dizer que a imprensa é culpada de tudo. “Cada
um é responsável por seus atos. Eu sou responsável por meus atos, a imprensa
pelos seus. E por esses atos seremos julgados. Eu já fui julgado, fui reeleito
em 2006, elegi a presidenta (Dilma) em 2010 e cumpri minha missão. Agora,
espero que a imprensa siga cumprindo sua missão de informar a sociedade
brasileira e o mundo inteiro”.
Lula esteve ontem (17) na Argentina em um dia de intensa atividade
política. Em Buenos Aires, almoçou com a presidente Cristina Kirchner na Casa
Rosada, e, em Mar del Plata, participou de um congresso empresarial.
Ao ser indagado se teme o julgamento da Ação Penal 470, o chamado
“mensalão, no Supremo Tribunal Federal, observou que já foi julgado pelo povo
brasileiro : “Eu já fui julgado. A eleição da Dilma foi um julgamento
extraordinário. Para um presidente com oito anos de mandato, sair com 87% de
aprovação é um grande juízo — afirmou Lula, em referência à última avaliação
feita sobre seu governo pelo Instituto Ibope, em dezembro de 2010.
Mais tarde, em congresso empresarial sobre desenvolvimento sustentável
em Mar de Plata, Lula abordou a crise econômica global e disse ser necessário
buscar convergências entre os setores público e privado para encontrar
soluções.
“Os líderes mundiais devem entender que o problema não é somente
econômico, é fundamental apelar para a política para enfrentar os novos
desafios. Precisamos de mecanismos para enfrentar a especulação no mercado
financeiro internacional”, defendeu. Segundo Lula, a crise “nasceu e explodiu”
no coração do mundo mais desenvolvido e foi provocada pela falta de regras no
setor financeiro.
Lula acredita que o líder venezuelano, Hugo Chávez, recentemente
reeleito para um novo mandato, “deve começar a preparar sua sucessão”. “Havia
uma eleição na Venezuela, onde duas pessoas se apresentaram, Henrique Capriles
e Hugo Chávez, e eu achava que o segundo seria a melhor opção para o país.
Agora, acho também que o companheiro Chávez deve começar a preparar sua
sucessão”, disse Lula em entrevista publicada nesta quinta-feira pelo jornal La
Nación, de Buenos Aires.
Democracia
Lula disse que a Constituição da Venezuela “permite que Chávez seja
candidato pela quarta vez, mas quando ele perder, os adversários também poderão
se apresentar quantas vezes quiserem, e isso eu não acho que seja bom”.
“Por isso, é que eu mesmo não quis um terceiro mandato. Porque se
tivesse feito, teria tentando um quarto mandato e depois um quinto. Então, se
quero para mim, quero para todos. E para a democracia, a alternância de poder é
uma conquista da humanidade e, por isso, é preciso mantê-la”, sustentou.
Lula afirmou que se compararmos a “Venezuela de Chávez” com a “Venezuela antes de Chávez”, o país “melhorou muito” e o “povo pobre ganhou dignidade”.
Lula afirmou que se compararmos a “Venezuela de Chávez” com a “Venezuela antes de Chávez”, o país “melhorou muito” e o “povo pobre ganhou dignidade”.
“A América do Sul ganhou muito com Chávez, porque antes até os
sanitários eram importados dos Estados Unidos. Hoje, essa importação é feita
também da Argentina, Brasil e outros países. A Venezuela começou a olhar para
América Latina, por isso defendi o ingresso do país no Mercosul”, disse.
Com relação ao Mercosul, Lula considerou que a suspensão do Paraguai foi
acertada por conta da destituição do então presidente Fernando Lugo, em junho,
pelo senado paraguaio, em processo cuja legitimidade foi questionada pelas nações
vizinhas.
“Não se pode permitir que a política seja feita dessa maneira”, afirmou
Lula. “Sinceramente, acho que se a vontade popular não foi respeitada, a
democracia ficará debilitada. Lugo terminaria seu mandato no ano que vem, por
isso acho que decisão do Mercosul foi correta”, acrescentou.
Leia a integra da entrevista ao La Nación aqui:
http://www.lanacion.com.ar/1518253-lula-da-silva-la-democracia-es-alternancia
http://www.lanacion.com.ar/1518253-lula-da-silva-la-democracia-es-alternancia
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