Mais uma vez, a decisão da maioria dos ministros do Supremo Tribunal
Federal em me condenar, agora por formação de quadrilha, mostra total
desconsideração às provas contidas nos autos e que atestam minha inocência.
Nunca fiz parte nem chefiei quadrilha.
Assim como ocorreu há duas semanas, repete-se a condenação com base em
indícios, uma vez que apenas o corréu Roberto Jefferson sustenta a acusação
contra mim em juízo. Todas as suspeitas lançadas à época da CPI dos Correios
foram rebatidas de maneira robusta pela defesa, que fez registrar no processo
centenas de depoimentos que desmentem as ilações de Jefferson.
Como mostra minha defesa, as reuniões na Casa Civil com representantes
de bancos e empresários são compatíveis com a função de ministro e em momento algum,
como atestam os testemunhos, foram o fórum para discutir empréstimos. Todos os
depoimentos confirmam a legalidade dos encontros e também são uníssonos em
comprovar que, até fevereiro de 2004, eu acumulava a função de ministro da
articulação política. Portanto, por dever do ofício, me reunia com as
lideranças parlamentares e partidárias para discutir exclusivamente temas de
importância do governo tanto na Câmara quanto no Senado, além da relação com os
estados e municípios.
Sem provas, o que o Ministério Público fez e a maioria do Supremo acatou
foi recorrer às atribuições do cargo para me acusar e me condenar como mentor
do esquema financeiro. Fui condenado por ser ministro.
Fica provado ainda que nunca tive qualquer relação com o senhor Marcos
Valério. As quebras de meus sigilos fiscal, bancário e telefônico apontam que
não há qualquer relação com o publicitário.
Teorias e decisões que se curvam à sede por condenações, sem garantir a
presunção da inocência ou a análise mais rigorosa das provas produzidas pela
defesa, violam o Estado Democrático de Direito.
O que está em jogo são as liberdades e garantias individuais. Temo que
as premissas usadas neste julgamento, criando uma nova jurisprudência na
Suprema Corte brasileira, sirvam de norte para a condenação de outros réus
inocentes país afora. A minha geração, que lutou pela democracia e foi vítima
dos tribunais de exceção, especialmente após o Ato Institucional número 5, sabe
o valor da luta travada para se erguer os pilares da nossa atual democracia.
Condenar sem provas não cabe em uma democracia soberana.
Vou continuar minha luta para provar minha inocência, mas sobretudo para
assegurar que garantias tão valiosas ao Estado Democrático de Direito não se
percam em nosso país. Os autos falam por si mesmo. Qualquer consulta às suas
milhares de páginas, hoje ou amanhã, irá comprovar a inocência que me foi
negada neste julgamento.
São Paulo, 22 de outubro de 2012
José Dirceu
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